terça-feira, 22 de setembro de 2015

4 coisas que o olho humano procura numa foto

ATILA’S PRODUÇÕES FOTOGRÁFICAS


(Matéria publicada no site http://photos.com.br/)


É imprescindível que o fotógrafo saiba como o telespectador irá encarar e ler suas imagens

Fotos: Klarck Lansing

Se você está navegando neste blog, deduzo que você quer sair de sua zona de conforto. Com certeza você procura fazer fotos boas – mas isso é muito relativo.  Uma foto pode ser boa para uma pessoa, e nem tanto para outra. Muitas vezes até mesmo uma foto premiada é idolatrada por muitos e odiada por outros. Para exemplificar, nesse ano tive uma foto premiada no terceiro round da Bride Association (imagem acima). Essa foto foi premiada, acredito eu, pelo quesito artístico – já ouvi dezenas de interpretações dela. Alguns interpretam como alguém se autoconhecendo. Outros acreditam que ela está no mar, mergulhando em suas emoções. Já ouvi dizer também que parece que a noiva faleceu e foi para o céu. Mas quase todos dizem a mesma coisa: “Foto incrível. Mas na minha opinião ela não transmite nada”.
Bom, talvez isso seja verdade. O que ela transmite é muito relativo, muito interpretativo, muito pessoal. Mas existem, na minha opinião, quatro coisas que fazem o telespectador se prender na imagem, e mesmo que possa reclamar de algum detalhe técnico, emotivo ou qualquer outra coisa, existem motivos matemáticos e psicológicos que nos fazem gostar da foto. Talvez os fotógrafos, que são mais entendidos no assunto não goste disso ou daquilo, mas são fotografias simples – que não tem erro – e que todos os noivos gostam.


1º) Luz

Nossos olhos procuram a luz e a cor. Um ótimo exemplo disso é o low key. Veja a foto abaixo. Nosso olho é levado diretamente até a luz. O preto ou branco não chama atenção, pois são as cores do espectro sem luz (preto) ou completamente iluminado (branco).  Mas a forma como a luz é composta ou desenhada prende a visão, direciona o olhar. Na foto abaixo, temos outros aspectos que chamam a atenção, como o enquadramento, espaço de respiro, chianoscuro e emolduramento. Mas o que faz essa foto que eu considero simples se destacar é a luz. Nosso olhar é levado para onde tem luz e o espaço de respiro é ignorado.


Esta outra fotografia, feita no Making Of, de modo bem simples (um papelão cortado e um LED de iPhone) também ilustra o que estou explanando.


O cérebro humano procura luz, isso é implícito e universal. A luz é onde encontramos nossos semelhantes, é onde vemos nossas emoções, é onde a vida acontece. Por isso, nosso olho (guiado pelo nosso cérebro) procura a luz. A luz refletida em determinada superfície ou objeto, se transforma em cor. A título de exemplificação, numa parede vermelha, sem luz, ela se torna preta, com muita luz, ela se torna branca. Com a quantidade de luz normal que vivemos, ou em termos fotográficos, na exposição correta, vemos a cor vermelha da luz refletida ou incidida na parede vermelha. É por isso que os noivos gostam muito de silhuetas, ela é o oposto disto. Mostra o ambiente, mas esconde seus rostos.


A luz artificial ou natural faz com que nossos olhos se prendam. Mesmo que não sejam casos tão extremos como os exemplificados, se você tiver uma cena com luz parelha mas com destaque no ponto de assunto (casal), talvez com um flash ou led, ou com posicionamento correto contra o sol, com certeza você irá prender atenção de seus expectadores. Isso pode acontecer de modo criativo também, você pode brincar com a luz e assim brincar com o entendimento e percepção do olho humano sobre a imagem. 



2º) Semelhança

Tendemos a procurar nossos semelhantes. Se uma fotografia tiver um cachorro e um ser humano, tendemos a olhar primeiramente para o ser humano – porque ele é igual a nós. Buscar situações semelhantes aquelas que já passamos, compreender sentimentos que nos identifica, ou até mesmo o oposto – que mostram uma realidade totalmente diferente a nossa. Por isso, imagens fotojornalísticas se destacam. Você pode perceber que mesmo que uma fotografia simples num jornal, de um evento que você esteve ou acontecimento que você presenciou, parece incrível! Você ver aquela fotografia já desbotada de 20 anos atrás, com foco errado, com roupas que hoje você considera ridículas (mas na época eram incríveis e inovadoras), com todos posando, te traz bons sentimentos. É uma fotografia simples, descorada, mal focada, com resolução péssima – mas é uma foto incrível. É a foto que você guardou por 20 anos. Por quê? Semelhança! Você se identifica, se assemelha, e mesmo sendo uma fotografia “ruim”, para você tem significado, pois conta uma história.
Eu vejo que a fotografia como profissão tem se levado muito por este rumo. O sentimento, o storytelling, o quesito emoção faz uma fotografia simples ser incrível. Por isso, muitas vezes vemos uma fotografia extremamente fácil e simples ser premiada em todas associações, por fotógrafos com todo tipo de equipamentos, em qualquer lugar do mundo – a mesma foto e muitos prêmios, a lágrima da noiva. Com certeza você já viu uma fotografia que foi premiada assim. Por que? A noiva (e as outras noivas que já casaram ou pretendem se casar) se identificam com a emoção, com o sentimento.


Veja esta fotografia acima. Ela é simples, é apenas um casal escorado na parede. Mas o sentimento é tão singelo, tão verdadeiro, que te faz sorrir. Te faz sentir o calor, o cheiro, o carinho, o amor. Muitas fotografias são tão aconchegantes ou quentes que tiram o fôlego. Te fazem respirar junto com ela. Te fazem ouvir o barulho da música. O cheiro da comida ou do lixão. A dor do enfermo. Por que? Semelhança, ou empatia. Seja a semelhança real, ou o oposto, algo improvável, faz uma fotografia simples ser incrível. Lembra dessa foto abaixo com um cara saindo do escritório, parado, olhando quatro tanques de guerra? É uma fotografia simples, que mesmo após anos repercute e encanta. Quando o Jeff Widener fez ela, compôs de modo simples. Não tem técnica, nem enquadramento incrível. Mas a gente se “assemelha” com o homem de terno. Quando olho aquela foto, eu penso “E se fosse eu? Qual deve ser a sensação de ter quatro tanques me encarando em uma rua deserta? ”. Assim como no primeiro e nos próximos dois quesitos, a regra guia nosso cérebro – mas quando ela é quebrada, criada ao inverso, também encanta.



3º) Foco

Este item é algo menos psicológico e mais lógico. Não tem muito mistério, nem muito o que explicar. O nosso olho busca o foco. Se temos duas camadas, uma em foco e outra fora de foco, o olho vai direto para o foco. Mesmo que a camada fora de foco seja maior. É a clássica florzinha na frente da lente, flare, bokeh, etc. Mas este ponto é menos fraco que os outros dois anteriores. Se você tiver luz ou semelhantes (seres humanos) na área desfocada, tendemos a olhar para a luz/semelhança. O foco é muito poderoso na direção e guia do olhar, mas não tanto quanto os dois primeiros e muito menos com o próximo.




4º) Condução do olhar

Este aspecto é, no meu ponto de vista, o mais forte de todos os quatro. Ele é extremamente matemático e/ou psicológico, e acredito que sua plena compreensão nunca será atingida – nem por fotógrafos, nem por psicólogos. Aqui, entram todos os aspectos de direção de olhar e aspectos criativos e de composição. Contraste, chianoscuro, Teoria de Gestalt, Linhas, Sombras, Expressões, Cores e Luz, Padrões, Reflexos, Formatos, Planos, Compressões e Descompressões de Linhas. Vou tentar abordar alguns dos aspectos que considero mais importantes, pois seria impossível explanar todos os assuntos e objetos que conduzem o olhar.

Linhas: No meu ponto de vista, as linhas são a melhor forma de conduzir o olhar. Linhas horizontais dão harmonia e leveza a fotografia. Linhas verticais dão a sensação de humanização e natureza. Afinal, seres humanos e árvores são linhas verticais. E as linhas verticais são as mais poderosas, pois são dinâmicas. Dão movimento, agilidade e velocidade a fotografia. Conduzem o olhar de forma incrível. Lentes Grande Angulares expandem as linhas, transformando quase todas as linhas horizontais ou verticais em diagonais. Para você testar isso, pegue uma grande angular, de preferência algo abaixo de 20mm, e se for lente zoom será mais perceptível. Agora com a lente grande angular, fotografe uma rua, um poste, ou qualquer outra coisa com a câmera levemente inclinada. Você verá linhas verticais de modo incrível.


A foto acima foi feita com uma lente Canon 16-35mm f/2.8 L, e você pode ver como os postes, que são linhas verticais, formam quase um triângulo. Ela afeta as linhas de forma incrível. Agora veja abaixo uma imagem da mesma sessão de fotos, mas agora com uma 70-200mm em 200mm. Veja as linhas verticais dos prédios (desfocados) atrás da noiva. Eles estão perfeitamente retos. Na realidade, eles eram tão retos quanto os postes da primeira foto. Mas a compressão da tele não meche tanto com as linhas. Para teste, tente fotografar uma rua com uma 28mm e depois com uma 85mm, com o mesmo enquadramento. Na 28mm, as linhas se unem no final, formando um triangulo. Em 85mm, as linhas andam de forma paralela. A diferença nas linhas entre grande angular e tele é brusca.


Agora veja como as linhas, quer seja com um Grande Angular ou um Tele conduzem o olhar. Olhe a fotografia abaixo. As linhas do banco direcionam o olhar para o casal, e o dinamismo das linhas diagonais criadas pela 28mm te forçam a olhar para os noivos. Você pode não gostar da expressão deles, da questão técnica, das roupas, da pose, de qualquer coisa. Mas é inegável o fato de que você olha para os noivos. As linhas forçam teu cérebro e teu olhar para o casal. Mesmo que você veja essa foto, role a página para cima, e desça de novo, ao olhar para ela, as linhas vão, de novo, te guiar para o casal. Você pode ver 100 vezes por dia essa foto, todas as vezes as linhas vão te levar para o mesmo lugar. É fato que a LUZ/COR, SEMELHANÇA e FOCO também fazem isso. Mas acredito que nenhuma faça isso com tanta força quanto as linhas, ou os outros aspectos da condução do olhar.


Mais uma foto daquela mesma noiva, com a 16-35mm novamente, ilustrando o poder da direção das linhas.


E agora outra mostrando o poder das linhas diagonais, do dinamismo delas, da força da luz e da cor, já usando outro fator de condução de olhar – reflexos.


Padrões: Padrões é um conjunto de coisas semelhantes ou iguais que se completam e guiam nosso olhar. Se mescla com o conceito de textura, que não vou entrar em detalhes para não delongar demais. Mas acho que a fotografia abaixo vai explicar bem visualmente o que quero dizer. Temos uma série de padrões (pedras) e uma quebra nesses padrões (casal – semelhança). É um espaço de respiro porém mais bem montado, que dão harmonia, leveza e continuidade na fotografia.


Formatos: Esta ferramenta de condução de olhar é simples e não tem muito o que discutir. Utilize de quadrados, círculos, formatos ovais, triângulos, triângulos retos, octógonos, hexágonos, pentágonos, ou até mesmo formas abstratas para dar direção ao olhar. Veja a fotografia abaixo. As pessoas na festa dentro do círculo dão destaque total a ela.


Veja esta outra, com o casal dentro de um quadrado, com tijolos retangulares, e o telhado em formato triangular, e a janela em formato circular. A presença de formas geométricas é muito grande nesta fotografia (também tem um triangulo implícito, na Teoria de Gestalt, na qual forma o triângulo entre as duas plantas que são semicírculos e a janela que é um círculo, formando um triangulo de Gestalt muito bacana, na minha opinião).


Simetria: O olho humano gosta de simetria. Gosta das coisas nos seus devidos lugares, por isso o horizonte sempre tem que estar retinho. Cada coisa no seu devido lugar. Aprendemos isso desde a infância, e isso é importante na hora de compor uma fotografia. Se você for fotografar 5 cadeiras, e tiver 4 cadeiras alinhadas e uma torta, a torta ganhará destaque por estar “errada”. Você pode usar isso ao seu favor, usando a assimetria para chamar atenção, chocar. Mas em geral, a simetria é o que agrada o olho humano. Quando uma foto é assimétrica, quem vê sabe que tem algo errado mas muitas vezes não entende o motivo. Às vezes vejo uma foto que tirei, ela é boa, mas eu sei que tem algo de errado. Algum detalhe faltando. Em 99% dos casos, quando eu descubro, é porque tem algo assimétrico na fotografia. Principalmente ao fotografar objetos no casamento (aliança, sapatos, vestidos, decoração, etc), vejo muitos errando nesta questão por organizar os itens de forma assimétrica. Tenha certeza, principalmente em coisas estáveis e estáticas, o melhor sempre é a simetria!


Claro que não são somente estes quatro fatores que contribuem para a direção do olhar e psicologia da condução visual do telespectador. Estes são os que eu considero mais importante, mas todo ano a psicologia encontra novos métodos de guiar o olhar e entender como o olho humano se comporta ao ver uma fotografia. O fotógrafo profissional, é pago para ter o olhar aguçado, a visão detalhista, e por isso é imprescindível que ele saiba como o telespectador vai encarar e ler suas imagens – sendo ele leigo (noivos) ou profissional (colegas de profissão e profissionais da área da imagem e design).
Continue guiando os olhos de quem olha suas fotografias, e componha usando Luz, Cor, Semelhança, Assemelhança, Foco, Linhas, Gestalt, Padrões, Simetria, Assimetria e todos os conceitos de composição que você conseguir aprender, decorar, estudar, entender ou pelo menos copiar. Copiar conceitos, não fotografias!







ATILA’S PRODUÇÕES FOTOGRÁFICAS


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