ATILA’S PRODUÇÕES
FOTOGRÁFICAS
O importante
trabalho de Lance Keimig, um especialista em longas exposições.
(Reprodução da matéria publicada pela revista PHOTO
MAGAZINE, da Editora Photos – Ago/Set 2011 – ano 7 - №39
- www.photomagazine.com.br).
A LUA COMO TESTEMUNHA
Um tripé no chão e um bocado de
ideias na cabeça. Essa adaptação mais do que livre do lema do Cinema Novo de
Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos – "uma câmera na mão e uma ideia
na cabeça" – poderia servir para o trabalho dos adeptos da fotografia
noturna. Para esses apaixonados pela beleza das imagens captadas à noite, a
lua, postes, faróis de carros, lanternas ou qualquer outra fonte de luz
disponível se tornam, com o indispensável apoio – literalmente – de um bom
tripé, os pincéis suficientes para a criação de fotos quase surreais em sua
estranheza e impacto, como as assinadas pelo norte-americano Lance Keimig.
Uma das atrações do Estúdio
Brasil 2011, que acontecerá em novembro, em São Paulo, Lance se encantou pela
fotografia noturna já no começo da carreira, no início da década de 80.
"Um dos primeiros filmes que operei foi em meu quarto, com as luzes
apagadas. Coloquei a câmera sobre um tripé e fiz longas exposições de minha
namorada brincando com lanternas. Fiquei intrigado com o resultado do obturador
aberto por muito tempo", lembra. A experiência não trouxe apenas imagens
curiosas, mas um caminho para sua trajetória fotográfica. "O potencial
criativo dessa técnica é ilimitado", garante.
Uma das razões de sua paixão
pela fotografia noturna – que inclui inspiradas imagens com a técnica do light
painting – é a possibilidade de trabalhar sem grandes aparatos tecnológicos.
"Além de um tripé resistente e um timer para a câmera, não é preciso
dispor de grandes recursos", afirma. Ele diz que câmeras de mecânica
simples, como a Hasselblad, são perfeitas para os night shots – especialmente
em preto e branco. "O filme ainda é melhor para exposições acima de 30
minutos, e eu continuo apreciando a arte de trabalhar com todo o aparato do
laboratório PB", conta.
Lance não despreza, no entanto,
os avanços da tecnologia digital. "É ótimo para o aprendizado, dá uma
visão imediata do resultado", analisa. A evolução das câmeras, especialmente
dos sensores, também lhe agrada: "Estamos empurrando os limites do que os
sensores podem registrar. A partir de 2008, SLRs como a 5D Mark II e a D700
redefiniram os padrões da fotografia noturna. Para fotos em cor, não vejo
nenhuma razão para continuar com a película", acredita.
Ele diz que não há grandes
segredos na fotografia noturna – o que não significa que seja um trabalho
simples. “Exige dedicação e muita tentativa de erro”, comenta. Nas fotos
urbanas, destaca o controle do contraste e a mistura de fontes de luz como
algumas chaves do sucesso. Para as de paisagens, em que a luz da lua é
predominante, recomenda o uso de iluminação suplementar. “Aumenta o interesse
visual”. Outra dificuldade, segundo o fotógrafo, é definir a composição e o
foco: “Em condições de baixíssima luminosidade, é um grande desafio”. Como
fotografia em Raw, não se preocupa muito com o balanço de branco. “Mas sempre é
bom chegar o mais perto possível do
resultado desejado já na câmera”, aconselha.
Professor da Escola de
Fotografia da Nova Inglaterra, em Boston, e em diversos workshops nos Estados
Unidos e Reino Unido, Lance também atua como curador na galeria Three Columns,
da Universidade de Harvard, além de fotografar coleções de museus e exposições e
ter imagens em diversos acervos corporativos e institucionais. “Na maior parte
dos casos, vendo minhas impressões diretamente, não através de galerias”,
explica.
Seu envolvimento com a foto
começou aos 19 anos, influenciado por uma namorada. “Não tinha noção do que
faria na vida, mas assim que comecei a fotografar, descobri que tinha
encontrado a minha paixão”, recorda. Fez os primeiros estudos em Baltimore,
onde foi criado, e mais tarde se mudou para São Francisco, para estudar com
Steve Harper na Academia de Arte, já de olho nas possibilidades da fotografia
noturna. “Era a única que tinha uma especialização nesse assunto”, diz.
Em 1997, em parceria com Tim Baskerville,
fundou a Nocturnes, especialidade em workshop de fotografia noturna em São
Francisco, e desde então vem se dedicando a passar seus conhecimentos sobre o
assunto. A partir do ano 2000, criou uma cadeira sobre o tema na Escola de
Fotografia da Nova Inglaterra, em Boston, onde também dá aulas de light
painting. “Não tenho noção de quantos alunos passaram pelos cursos. O que me
alegra é que a maioria se encanta pela técnica e continua voltado a ela”, comemora.
Há uma boa e crescente demanda
para esse tipo de imagem, segundo o fotógrafo, especialmente na publicidade e
em editoriais. “Mas é um mundo do qual não faço parte”, esclarece. Um bom
filão, para ele, é o de fotografia industrial. “Tenho um colega, Tom Paiva, que
trabalha muito nessa área, e muitas vezes convence seus clientes a optarem por
fotos noturnas das plantas industriais, porque a combinação de luzes cria cores
que fazem as industrias, geralmente feias, parecem mais interessantes
visualmente”, ressalta.
Além de Paiva (www.tompaiva.com), Lance destaca Michael
Kenna (www.michaelkenna.com) como
influência em seu trabalho, além do próprio Tim Baskerville, parceiro no grupo
Nocturnes (www.thenocturnes.com), e
de Scott Martin (www.on-sight.com). Outra
fonte que recomenda para se apreciar boas imagens na área é www.darknessdarkness.com , fruto da
curadoria do trabalho de 35 fotógrafos para a galeria de Harvard. “Há muitas
pessoas verdadeiramente criativas trabalhando com isso. O Flickr é um grande
canal para ver alguns desses ensaios”, recomenda.
Autor de um livro, Night
Photography (lançado em quatro idiomas e com lançamento para o mercado brasileiro
previsto para o mês de novembro), e com outros em fase final, Lance diz que seu
workshop no Brasil terá uma intensa apresentação técnica, seguida de varias
horas de prática. “Os alunos terão grande entendimento dos princípios básicos
do tema e um forte desejo de continuar se aventurando na fotografia noturna”,
assegura o fotógrafo, que também sobe ao palco do Teatro das Artes para
apresentações ao vivo de light painting. Boa oportunidade – para notívagos ou
não.
Fotos de Lance Keimig
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